Corpos surdos na arte De’via: resistências políticas das imagens

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Data
2021
Tipo de documento
Tese
Título da Revista
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Área do conhecimento
Linguística, Letras e Artes
Modalidade de acesso
Acesso aberto
Editora
Autores
Neves, Gabriele Vieira
Orientador
Souza, Ramayana Lira de
Coorientador
Resumo
Na década de 1980 surgiu nos Estados Unidos um movimento cultural, liderado por artistas visuais surdos, denominado de Arte De'VIA - Deaf View Image and Art. Esse movimento buscava desnaturalizar aquilo que, até então, era chamado de arte surda. Neste sentido, o objetivo desta tese é analisar as estratégias de resistência política da surdidade na produção de imagens de crianças surdas na arte De’VIA. Busca-se, também, reconhecer os traços caracterizados como gestos políticos de resistência ao poder normalizador ouvinte; compreender os efeitos que as imagens do corpo da criança produzem nas telas dos pintores do Movimento De’VIA; apontar os elementos que compõem uma contra-narrativa surda sobre a sua própria história e a sua surdidade. Fundamentando-se no referencial teórico-metodológico de Jacques Ranciére, Giorgio Agamben, Georges Didi-Huberman, Judith Butler, Paddy Ladd e Conceição Evaristo, a pesquisa consiste na análise de obras de arte do referido movimento artístico, com enfoque nas produções de duas artistas surdas contemporâneas: Nancy Rourke e Susan Dupor. Foram observados, também, elementos que, concatenados, ativam o pensamento e a potência política da linguagem e da visualidade, tais como: escala, composição do espaço pictórico, formas, linhas, cores, luz, tonalidades, texturas, padrões e repetições. Observou-se que a apropriação das imagens injuriosas sobre a criança surda transforma em resistência aquilo que serviu de justificativa para a colonização dos corpos surdos: a sua suposta indocilidade, a sua animalidade ou a sua monstruosidade. Na mesma direção, a exposição da condição de “ser objetificado” expõem as tentativas massivas de normalização e de governo das populações surdas. Uma vez que as imagens das infâncias surdas remetem a um passado em comum, vivido na singularidade indissociável da experiência coletiva da surdidade, a tarefa das pintoras se aproxima do conceito de escrevivência da escritora Conceição Evaristo. Isso porque, para além da escrita de si, que relata e reflete sobre a experiência individual do sujeito, a escrevivência trata da experiência individual que se repete no coletivo. Simultaneamente, em contraposição aos ideais romantizados de família, de feminilidade, de infância e de criança deficiente, as artistas expõem outro enquadramento para além do tradicional, do estável, do fixo, enfim, do adulto. A pintura da surdidade ganha assim, um rosto profanador, que recusa os modos de vida subalternizados, historicamente relegados às pessoas surdas ao redor do mundo.

Palavras-chave
resistência política, surdidade, Imagens da infância, arte De'VIA
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