Relatório de Estágio Curricular Supervisionado

Nenhuma Miniatura disponível

Data

2022-12-13

Tipo de documento

Relatório de estágio

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Área do conhecimento

Ciências Agrárias

Modalidade de acesso

Acesso aberto

Editora

Autores

Soares, Vanessa Alves Paim

Orientador

Teixeira, Mariana Caetano

Coorientador

Resumo

As hemoparasitoses são enfermidades frequentes e de grande relevância na rotina veterinária, pois levam ao adoecimento dos animais infectados e em casos mais severos, à morte. Os animais infectados desenvolvem um papel importante no contexto de saúde pública, visto que eles podem atuar como reservatório de agentes com potencial de infecção para os seres humanos (COSTA, 2015). Entre os hemoparasitos mais descritos em cães, destacam-se: Anaplasma platys, Ehrlichia canis, Rangelia vitalii e Babesia vogeli, em decorrência da alta prevalência e ampla distribuição geográfica do vetor desses agentes etiológicos (RIBEIRO et al., 2017; FERRAZ et al., 2021). A transmissão destes parasitos ocorre principalmente pelo carrapato marrom do cão, o Rhipicephalus sanguineus, este carrapato é considerado um vetor bem reconhecido de inúmeros agentes, sendo ele o ectoparasita mais difundido no mundo (DANTAS-TORRES, 2008; SNELLGROVEA et al., 2020; ARROYAVE et al., 2021). A. platys, agente etiológico da trombocitopenia cíclica canina, é um microrganismo intracelular obrigatório, que parasita unicamente as plaquetas de cães, provocando episódios cíclicos de trombocitopenia, característica esta que dá origem ao nome da enfermidade (FERREIRA et al., 2008; COSTA, 2015). Este agente foi descrito pela primeira vez em 1978, nos EUA e, posteriormente, foi relatado no sul da Europa, na Ásia, na América do Sul, no Oriente Médio, na Austrália, no Caribe e na África (HARVEY, 2015). A anaplasmose trombocítica canina é uma doença causada por uma bactéria gram negativa, pertencente à ordem Rickettssiales, família Anaplasmataceae e gênero Anaplasma. Pertencente a esta mesma família existe ainda um outro agente, denominado Anaplasma phagocytophilum (MACHADO et al., 2010). A infecção por A. phagocytophilum em cães é conhecida como anaplasmose granulocítica canina (ATIF et al., 2021). O A. platys induz uma trombocitopenia recorrente, que aumenta e diminui em ciclos de 10 a 14 dias durante a infecção aguda, na ausência de outros agentes infecciosos ou fatores complicadores, a trombocitopenia tende a solucionar-se sem tratamento, possivelmente em virtude do desenvolvimento de respostas do sistema imunológico, visto que existem relatos nos Estados Unidos o qual demonstram que, apesar da trombocitopenia, a maioria dos cães infectados não desenvolveram a doença clínica. Entretanto, a doença já foi relatada incluindo tendências hemorrágicas e uveíte anterior bilateral. As infecções por A. platys na Espanha e no Chile são descritas como mais patogênicas, comparado àquelas vistas na América do Norte. As diferenças quanto à patogenicidade das infecções já relatadas, podem ocorrer em decorrência das variações geográficas nas cepas de A. platys. Além da trombocitopenia, os achados laboratoriais podem incluir presença de anemia não regenerativa, leucopenia, hipoalbuminemia, hipocalcemia e hipergamaglobulinemia (LITTLE, 2010; SHERDING, 2013). O quadro clínico é caracterizado por febre, anorexia, perda de peso, letargia, petéquias, mucosas pálidas, secreção nasal, epistaxe, linfoadenomegalia e uveíte bilateral (ATIF et al., 2021). Ainda que o vetor de A. platys não esteja bem comprovado, presume-se que o carrapato R. sanguineus seja o vetor responsável por sua transmissão, visto que ele é comprovadamente o principal vetor de E. canis e diversos estudos demonstram a existência de coinfecção entre esses dois agentes etiológicos (DANTAS-TORRES, 2008; SNELLGROVEA et al., 2020; ARROYAVE et al., 2021). A espécie A. phagocytophilum infecta granulócitos, predominantemente neutrófilos, onde se reproduz formando colônias chamadas de mórulas (SANTOS, 2011). Os sinais clínicos apresentados em cães infectados normalmente cursam com febre e letargia, acompanhado de anorexia. Disfunção do sistema nervoso central, claudicação e relutância em se mover em decorrência do desenvolvimento de uma poliartrite neutrofílica já foram descritas na anaplasmose canina por A. phagocytophilum. Os cães podem atuar como reservatórios desse agente (LITTLE, 2010; VARGAS-HERNANDES, 2016). O A. phagocytophilum foi detectado em cães em um estudo realizado no estado do Rio de Janeiro, por meio de diagnóstico molecular, através de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) em tempo real (LASTA et al., 2013; SANTOS, 2011). Os resultados desse levantamento demonstram que o agente responsável pela ocorrência de uma zoonose, denominada anaplasmose granculocítica humana, circula em território nacional. Já foram descritos, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa que esse patógeno é capaz de causar severos danos à saúde humana, principalmente quando associados a outros microrganismos, visto que ele infecta células de defesa do organismo (SANTOS, 2011). O diagnóstico desses agentes é baseado na combinação dos sinais clínicos, nas alterações hematológicas, na pesquisa de mórulas em esfregaço sanguíneo, na detecção de anticorpos por imunofluorescência indireta ou amplificação de DNA através da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) (FERREIRA et al., 2008; BERNARDES, 2022). Além disso, existe um teste imunocromatográfico baseado em ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) (Snap teste 4Dx, Idexx Laboratório) que detecta anticorpos contra Anaplasma spp., dentre outros (FERREIRA et al., 2008). O tratamento mais eficaz para infecção por A. platys é obtido através do uso de doxiciclina ou enrofloxacino (TAKAHIRA, 2016). Para filhotes de cães com menos de 1 ano de idade, a fim de evitar a pigmentação amarelada nos dentes, foi indicado o uso de cloranfenicol, embora a doxiciclina tenha menos propensão do que as tetraciclinas hidrossolúveis de ocasionar esse problema. Portanto, a doxiciclina é o tratamento usualmente instituído (DINIZ; BREITSCHWERDT, 2015). A profilaxia desses agentes infecciosos é através do controle de exposição ao vetor e no uso de carrapaticidas (TAKAHIRA, 2016).

Palavras-chave

Anaplasma platys, anaplasmose canina, trombocitopenia, hemoparasitose

Citação